A Arte é necessária?

| segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Desde o início dos trabalhos para a elaboração do nosso fanzine, uma questão se tornou permanente e de extrema importância para o diálogo que gostaríamos de estabelecer entre os artísticas e o campus. Além de divulgar as manifestações artísticas dos alunos do campus Guarulhos, gostaríamos de tentar responder as duas perguntas que são feitas quase que por instinto por todos os artístas e por quase todos os estudantes do campus. “A arte é necessária?” e complementarmente a essa pergunta, “As humanas são necessárias?”.

Recentemente em artigo publicado pela revista Cult o pesquisador Vladimir Safatle relata uma suposta crise das humanidades. Para o estudioso, a massificação dos conhecimentos técnicos e a eterna busca por rapidez e por lucro torna o estudo das ciências humanas em um estudo desnecessário e obsoleto aos olhos da sociedade imediatista na qual estamos todos inseridos. O problema, aos olhos de diversos pesquisadores, é que as humanidades, e aqui podemos linkar claramentecom qualquer manifestação artística, fazem críticas e questionamentos ao próprio sistema na qual estão imersos. Não é de se estranhar, por exemplo, que um grupo de estudos dentro que uma Universidade passe a questionar exatamente seu funcionamento e seus métodos. O questionamento e a críticas são os alicerces que mantém a grande área das Ciêncis Humanas como uma das áreas mais importante para a formação e fomentação de um pensamento crítico e social em toda a sociedade.

Com o teatro podemos observar o mesmos fenômeno. Os grupos e cias mais experimentais sempre procuram novas formas de linguagem e de construção estética, o que muitas vezes é visto como uma pesquisa irrelevante aos olhos da nossa comunidade. Uma pesquisa estética teatral, assim como qualquer pesquisa de humanas, demanda tempo e financeiramente não agrega o lucro de uma pesquisa farmacêutica, por exemplo. O teatro carrega, ainda que não unicamente, a função de trazer a crítica e o questionamento para seus espectadores. Assistir a um espetáculo que se propõem a levantar esses questionamentos acaba sendo desconfortável para um público que está acostumado apenas com filmes, novelas e demais manifestações artísticas que buscam o entretenimento acima de qualquer questionamento estético.

Mais do que divulgar as manifestações artísticas do campus, gostaríamos de reacender a discussão e chamar a atenção para uma questão que, para nós do Unifesp Cultural, é extremamente importante. Gostaríamos de lembrar a todos da nossa função questionadora na sociedade. Precisamos todos nos lembrar que somos privilegiados por termos a oportunidade de formar um pensamento crítico da atualidade e que, para isso, não devemos nos abalar com críticas infundadas quanto à relevância de nossas pesquisas acadêmicas, afinal não somos os primeiros e certamente não seremos os últimos a serem julgados pelos olhos imediatistas que buscam apenas o lucro financeiro em todos as áreas acadêmicas.

Fotos divulgação Coletivo Borboletas


Por Daiane Sobreira

3 comentários:

João disse...
5 de abril de 2010 às 17:06 Este comentário foi removido pelo autor.
João disse...
5 de abril de 2010 às 17:09 Este comentário foi removido pelo autor.
João disse...
5 de abril de 2010 às 17:11

Sou novo na UNIFESP e gostaria de conhecer mais de perto o que se faz aí em relação às artes.
Concordo que um problema fundamental das humanidades consiste na desmoralização indecente que se faz, em tom de chacota, aos que se dedicam a uma atividade tão "pouco rentável". Mas o problema cresce em proporção não só na academia, e é particularmente alarmante a crise imaginativa das pessoas na vida diária, afinal de contas uma necessidade que abarca a vida em sua totalidade. Sem imaginação nem nosso estômago poderia funcionar direito, e o assalto a imaginação não deixa de ser uma forma de ditadura.

Ficamos então com as palavras de Borges, que disse uma vez ao Bioy Casares mais ou menos assim: não seja médico, engenheiro, bombeiro, encanador, pois desses já temos demais, seja escritor, apenas escritor.

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